domingo, 22 de junho de 2008

Em algum lugar de Arcadia...

- Noite de mer#@, devia ter ficado no meu canto, agora to alucinando junto com aquele viadinho...

- Só pode ser isso...

- Claro faz sentido, eles me doparam enquanto me seguravam, eu vou dar meia volta e caminhar na direção de onde eu vim e tudo vai acabar bem...

...

- Isso é ridículo, já estou andando a um tempão, e nada acontece...

- E esse maldito cheiro que me persegue, é nojento, nem aqueles cemitérios de quinta onde eu filmava eram tão fedidos, para piorar tem essa escuridão, não enxergo nada, já caí e levantei dúzias de vezes, acho que estou sangrando, um corte na perna aparentemente, mas nem ligo o sangue é quente e a dor me lembra que estou vivo...

- Alias pensei ser a única coisa viva nessa droga de lugar, mas senti algo rastejar sobre meus pés, quase pego ela, não sei o que era, mas certamente seria devorada, cara que fome...

...

- Andei por muito tempo, e tudo que consegui foi me ferir, me cansar e me embrenhar mais ainda nessa floresta insana, não sei a quanto tempo estou aqui, e nem lembro quando foi que comecei a falar sozinho, mas acho que se parasse de ouvir minha voz seria difícil acreditar que não estou morto, ou talvez o silencio macabro desse lugar seja terrível demais para mim suportar...

- Não como, não durmo, não bebo nada a dias, pelo menos eu acho que são dias, é curioso como horas, dias ou minutos são iguais nesse maldito lugar, as vezes me pergunto como ainda estou vivo...

- Quer saber Fo#@-$e! Morrer seria muito fácil, covarde até, e covarde eu nunca fui, inconseqüente, egoísta e até imaturo, mas jamais covarde...

...

- Que vergonha Samuel! – meu pai sempre dizia isso quando eu o irritava, ele deve estar furioso com o que “eu” fiz com o filhinho do chefe. É ele sempre achou que o saco do chefe é o corrimão para o sucesso...

...

- Cada músculo do meu corpo dói, já não agüento andar, estou rastejando a dias nesse charco pútrido acho que é o fim da linha...

- Pêra aí, esse cheiro, não é a maldita putrefação de antes, não, é doce e agradável, não se assemelha a nada que tenha sentido antes...

- Como é bom sentir algo assim novamente, esse cheiro me lembra o perfume da Simone, ah que saudades da minha irmãzinha...

- Opa! O que é isso uma luz dourada, ela começou tênue e depois brilhou como um pequeno sol iluminando o lugar, demorou a meus olhos se adequarem aquilo, quando voltei a enxergar mal pude acreditar no que ví...

- Ela é linda, uma dama esbelta e radiante que traz consigo o sol e a esperança, seu belo corpo adornado por ramos, vinhas, flores e frutos que parecem brotar de sua pele. Ela veio a mim e sem dizer nada estendeu-me a mão, rejeitá-la não era opção, não ninguém faria isso, ela era perfeita e bela demais para isso, então eu estendi a mão devolta, mas não consegui toca-la...

- De repente senti uma forte pressão nas pernas, logo me dei conta de que vinhas, cipós e raízes se entrelaçavam em meu corpo, seus espinhos cravavam-me a pele...

- Argh! nã...não sei se a dor é maior que o prazer de ter encontrado alguém tão bela nesse inferno...

- De qualquer forma não vou agüentar muito tempo, acho que é o fim da linha para mim, se pelo menos estivesse com minha câmera, esse seria o final digno de um ótimo filme...

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